Depois de ler este texto da Ana Rita e verificar alguns relatos que consigo encontrar na minha vida de terapeuta, por isso o transcrevo para que possa ser lido por outras pessoas
O tantra
expande o universo de sensações e prazer. Conheça melhor essa prática e melhore
sua vida amorosa e sexual.
Na
infância, o sexo costuma ser um assunto misterioso, cercado de tabus. Na
adolescência, quando colocamos em prática a busca do prazer a dois, a
descoberta é tão forte que só queremos mais e mais. A maturidade, porém, chega
e, com o tempo, percebemos que apenas a quantidade não nos satisfaz. Mais do
que muito sexo, queremos sexo com qualidade. Apesar do desejo universal de
prazer, pela troca, no entanto, quem pode dizer com sinceridade que se sente
livre, leve e solto e completamente satisfeito entre quatro paredes?
Antes de
responsabilizar o parceiro ou até mesmo a falta dele, vale tentar enxergar o
sexo por uma outra perspectiva: a do tantra. Segundo esse complexo de conceitos
filosóficos a respeito da vida surgido há mais de 5 mil anos na região da
Caxemira, norte do Paquistão e da Índia, o sexo tem o potencial de nos colocar
em contato com a nossa energia vital, a do outro e ainda desenvolver o
autoconhecimento e a verdadeira intimidade. A chave, dizem os tântricos, é
mudar a forma com que nos relacionamos com a sexualidade. E, claro, para isso
há técnicas milenares de toque, controle da respiração e meditações que
prometem levar os praticantes a sensações intensas e orgasmos nunca antes
experimentados.
A advogada
paulistana Mara Linhares, de 33 anos, pratica o tantra com o marido há três
anos. Antes desse período, eles estavam prestes a se separar, pois viviam
frustrados com o fato de Mara não sentir orgasmo nas relações sexuais. “Eu
simplesmente não conseguia chegar lá, apesar de estar casada há cinco anos”,
conta. Indicada por uma amiga, resolveu ir a um centro tântrico. Lá, um
terapeuta ensinou para ela e o marido como despertar orgasmos poderosos um no
corpo do outro. “Eu cheguei a chorar muitas vezes, pois a sensação do orgasmo é
muito intensa, a ponto de causar vários espasmos. São ondas circulando pelo
corpo inteiro. Perde-se a noção do tempo, do espaço”, relata. Na hora de
transpor o conhecimento para os momentos íntimos, o casal também aprendeu a
investir em posições confortáveis, justamente para poder prolongar a união
sexual. Trocar de posição a todo momento, aliás, prejudica o processo de
interiorização e percepção das sensações e, consequentemente, a obtenção do
prazer. Quando o encaixe é menos amplo, essa é uma diferença fundamental do
tantra para o Kama Sutra, dar e receber prazer passa a ser natural, sem a
necessidade de ser performático. Casais tântricos, inclusive, costumam passar
horas apenas se olhando e tocando levemente o corpo do parceiro antes da
penetração. O que guia o ritmo é, sobretudo, o afeto e o cuidado; jamais a
preocupação do ego com a virilidade e afins.
O
brasileiro Deva Nishok, idealizador do centro tântrico Metamorfose, presente em
várias capitais do país, conta que o tantra estimula o desenvolvimento da
sexualidade por vias que normalmente não são exploradas: “As pessoas costumam
se excitar sexualmente por meio de estímulos visuais e fantasias que atuam no
hemisfério cerebral esquerdo, descem pela medula e causam resposta nos órgãos
sexuais”, conta. “No tantra, o gatilho para a excitação não parte nem de
estímulos visuais nem de fantasias eróticas, mas da percepção do toque do outro
no próprio corpo. Quando se rompe o padrão “fantasiar para se excitar” e
deixa-se o toque comandar a festa, mobilizá-se o hemisfério cerebral direito.
Com ele na liderança, não há espaço para as racionalizações, julgamentos ou
preocupação com a performance. Só para o desfrute”, completa.
Além de
sugerir que nos excitemos por meio do toque e não da fantasia ou dos estímulos
visuais, o tantra também busca uma mudança de padrão em relação à forma de
tocar no outro. Durante as massagens, toda a pele deve ser estimulada de forma
suave e contínua. “É preciso despertar a epiderme inteira para o prazer e não
só a região genital”, ressalta o paulistano Evandro Palma, terapeuta tântrico e
coordenador do centro Metamorfose. Tirar o foco apenas dos órgãos sexuais, ele
conta, é fundamental para integrar todas as partes do organismo, deixando a
energia sexual fluir e subir para os chakras superiores. “Só quando o corpo
inteiro vibra de excitação é que os órgãos sexuais podem ser tocados”,
completa.
Isso faz
com que a visão tântrica sobre a masturbação seja bem diferente da que estamos
acostumados a ouvir. Lembra dos sexólogos dizendo que tocar o próprio corpo é
uma forma de se conhecer melhor e adquirir intimidade consigo mesmo? No tantra,
a conversa é outra. “Os movimentos masturbatórios são repetitivos, viciantes,
localizados e condicionantes. E o resultado deles é uma sensação fraca e
efêmera”, diz o paulistano Evandro Palma. Ele diz ainda que a masturbação faz
com que o corpo crie uma memória sensorial limitada, associando o prazer apenas
à manipulação genital.
No tantra a rapidinha não tem vez
Mudar o
jeito de expressar a sua sexualidade foi uma jornada difícil para o mineiro
Fernando de Oliveira, 35 anos. O engenheiro sofria de ejaculação precoce e teve
de aprender a diminuir o próprio ritmo para encontrar o prazer. “Fazer sexo
para mim era como andar numa montanha-russa. Rápido, frenético. Eu me sentia
bastante ansioso, não conseguia controlar nada. O orgasmo virava uma saída
fraca para me aliviar. E depois eu ficava cansado e frustrado”, relata. “A
relação entre o sexo e a ansiedade é muito comum e o tantra busca
desvinculá-la. Quando o sexo torna-se tenso e mecânico, o que existe são duas
pessoas que não se comunicam. É triste, mas a maioria se relaciona assim”, diz
Isabelle Moura, terapeuta tântrica do centro Companhia do Ser. No caso do
Fernando, aprender a relaxar, por meio de meditação e exercícios de respiração
profunda, foi essencial para minar a ansiedade que levava à ejaculação precoce
e à frustração. Conhecer o próprio corpo também: “Descobri, numa massagem em
que a terapeuta movia as pontas dos dedos por toda a minha pele, dos pés a
cabeça, que podia sentir muito prazer com o corpo todo. E que os estímulos numa
velocidade mais lenta me ajudavam a controlar a hora de ter um orgasmo. Fora o
fato de que ele vinha muito mais forte”, conta.
Difícil
foi, ao começar a namorar, contar para a moça que frequentava um centro
tântrico. “Você paga para uma mulher te fazer gozar?” “Sim, mas não é o que
você está pensando...” “Meu Deus! Você frequenta uma casa de prostituição?” O
jeito foi levar a mineira Rafaela Zardini, de 28 anos, ao centro. “Apesar de o
terapeuta ficar de roupa e de o paciente não poder tocá-lo, no início foi
estranho. Demorou para eu entender que é possível sentir prazer a partir de um
toque e de uma experiência desvinculada do desejo”, ela conta. Depois da
experiência, o casal fez um curso tântrico em que aprendeu como tocar no corpo
do outro com calma, cuidado e a atenção voltada para o presente. Meditações com
o uso de yantras – mandalas com figuras geométricas e padrões florais que
representam a divindade feminina – e técnicas como a de vibração biodinâmica
(ficavam em pé, de frente um para o outro, com as pernas flexionadas por cerca
de 40 minutos) serviram para fazer a energia sexual – também chamada de
kundalini – ascender para os chakras superiores do corpo. Fernando diz que, com
três meses de prática, a ejaculação precoce sumiu. “Conseguimos unir o
potencial pleno do corpo em sentir prazer ao afeto e, por fim, ao desejo”,
conta.
Orgasmos transcendentais
No livro A
Função do Orgasmo, o médico e cientista ucraniano Wilhelm Reich (1897-1957)
desenvolveu a teoria de que, quando circula sem entraves, a energia sexual tem
a função de harmonizar o corpo humano, gerando um estado de saúde perene.
O guru
indiano Osho, que popularizou o tantra no Ocidente, nos anos 1960, vai além. Na
publicação Do Sexo à Supraconsciência (editora Cultrix), ele diz que o sexo é a
energia mais vibrante do homem, mas que não deve ser um fim em si mesmo, e sim
um caminho até a alma. Mas o que a atividade sexual, teoricamente mundana,
teria a ver com a espiritualidade? “O terapeuta tântrico toca o corpo do
paciente de forma a estimular a energia sexual a circular pelos chakras, liberando-os
de bloqueios. Trabalha-se todos, mas, sobretudo, o Muladhara, localizado no
períneo, o Anahata (cardíaco, conhecido como o centro do amor) e o Vishuddha
(localizado na garganta, relacionado à expressão e comunicação)”, explica Deva
Nishok. “Quando esses centros estão alinhados e a energia circula livremente, a
pessoa consegue acessar outros níveis de consciência e percepção. Então,
durante um orgasmo, ela consegue sentir a fonte primária que conecta todos
nós”, completa. Nishok chama isso de experiência oceânica e diz que ela não tem
a ver com sedução, sensualidade, nem erotismo, mas com ausência do ego e
conexão com o todo, valores primordialmente espirituais.
Apesar de
ser budista, a aposentada capixaba Edite do Rosário, de 60 anos, não procurou
um centro tântrico atrás da dimensão espiritual do sexo. “Eu queria me
redescobrir sexualmente, mas achava que não era possível, pois estava na
menopausa”, conta. O tantra ensinou à Edite que as mulheres são deusas sagradas
por causa do dom da maternidade e uma fonte infinita de prazer,
independentemente da idade.
Ela conta
que surpreendeu-se ao sentir prazer na terceira idade. “Não estava acostumada.
Muito menos com o fato de as sensações corporais provocadas pelas sessões de
massagem às vezes durarem dias”, diz. Segundo o terapeuta Evandro Palma, isso é
possível porque o toque terapêutico libera endorfina, serotonina e ocitocina,
hormônios que causam sensações agradáveis no corpo. No caso das mulheres na
menopausa, há ainda mais uma vantagem: a ocitocina é responsável também por
aumentar a lubrificação íntima. “Agradeço aos terapeutas que me ensinaram a
sentir prazer. E agora quero conhecer alguém com quem dividir esse aprendizado”,
diz. E, sem saber, corrobora uma das máximas filosóficas do tantra: a de buscar
compartilhar o conhecimento, o prazer e espalhar a felicidade pelo mundo.
Tantra versus
kama sutra
Não é
incomum as pessoas confundirem o tantra com o Kama Sutra, ou acharem que um
deriva do outro. No entanto, não existe relação direta entre os dois. Surgido
há mais de 5 mil anos na região da Caxemira, tantra significa “chave”,
“técnica” e propõe o uso da energia sexual para atingir novas percepções e
dimensões espirituais. Baseia-se na abertura e na receptividade,
características essencialmente femininas. No tantra, o que se busca por meio
das técnicas de toque é fazer a energia sexual circular pelo corpo inteiro para
só então mobilizá-la para os órgãos sexuais. Antes do sexo, os parceiros devem
se tocar bastante e, durante, é importante que se olhem nos olhos e fiquem numa
posição o mais confortável possível. Já kama signifca prazer em sânscrito e
sutra manual. O Kama Sutra é um texto indiano escrito por Vatsyayana Kamasutram,
no início do século 4, que traz um guia com posições sexuais e tipos de beijo
para a obtenção do prazer. Nele, o foco é a própria relação sexual e as
possibilidades interativas entre o corpo feminino e o masculino (mesmo que nem
todas sejam lá muito confortáveis). Apesar de os hindus considerarem o amor e o
prazer um dos três pilares para a elevação espiritual (os outros dois são o
dharma, mérito religioso, e a artha, aquisição de riquezas), no Kama Sutra não
se fala da energia sexual e de como usá-la para ascender espiritualmente.
Enquanto o tantra apresenta técnicas para desbloquear chacras e tornar pele e
músculos mais sensíveis a essa energia, o Kama Sutra parece ser mais uma
inspiração para a hora do vamos ver.
Texto: Ana
Rita Martins
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