O Solstício de Inverno é um dos momentos espirituais mais antigos da
humanidade. Quando
falamos no solstício de inverno no seu sentido espiritual temos de ter em
atenção ao que acontece e percebemos que essa noite é a noite mais longa do ano, é o momento em que o
Sol atinge o ponto mais baixo no céu, onde existe menor tempo de luz solar, quando se dá início do Inverno astronómico, sendo neste momento onde
define a morte simbólica da luz
externa e ao mesmo tempo considera-se como sendo o nascimento da nossa luz interna.
No hemisfério norte em Portugal, na Europa e na América do Norte comemora-se entre os dias 21 e 22 de dezembro, mas na
maioria dos anos é comemorado dia 21 de dezembro.
No Hemisfério Sul no Brasil, na Argentina, Chile, etc. comemora-se entre os dias 20 e 21 de
junho, mas na maioria dos anos é
comemorado dia 21 de junho.
Nas tradições espirituais e ancestrais
esta comemoração pode ser feita na
noite anterior por exemplo na noite de 20 para 21 de dezembro, ou exatamente
no mesmo dia do solstício, ou
ainda nos 3 dias simbólicos
(antes, durante e depois),
porque energeticamente o Sol “pára”,
o tempo desacelera, e o portal não é de um único minuto
O melhor momento para comemorar e celebrar espiritualmente é ao anoitecer,
antes de dormir, em silêncio e
em recolhimento o que vai respeita a energia real do Inverno.
Em todas as tradições antigas o Sol não desaparece, ele recolhe-se para
renascer.
O Solstício de Inverno não é uma celebração
de expansão, é uma celebração de
recolhimento, do silêncio e de gestação (na espiritualidade “gestação” não se
refere apenas à gravidez física, mas a um processo interno de incubação,
maturação e preparação), em que energeticamente se liga ao Ida Nadi
(lunar), ao Prana Vayu (movimento interno), aos elementos Terra e Água, e ao Chakra
da raiz e do coração profundo.
Estrutura de uma comemoração espiritual
1️ - A Preparação do espaço é muito importante e o ambiente deve:
Ter uma luz baixa ou apenas luz de velas
Estar em silêncio ou com sons muito suaves
O espaço deve estar limpo e ser um espaço simples
Devemos integrar alguns elementos simbólicos que podem ser colocados num pequeno altar como:
Uma vela (representa o Sol interno)
Um recipiente com água
Uma pedra ou cristal escuro
Algo natural (sementes, galho seco)
Não devemos ter ou fazer nada em excesso
e no final considerar que o inverno é essencialidade.
2️ - Preparação do nosso corpo e antes de
qualquer ritual, o corpo precisa e deve
entrar e estar em consonância com o inverno, devendo ter:
Uma respiração lenta e profunda
Os ombros soltos
O abdómen relaxado
O corpo ou os pés bem apoiados no chão
Quando a fazemos sozinhos podemos
fazer uma automassagem com óleo mas a nossa respiração deve ser nasal e profunda,
e devemos manter o silêncio consciente durante alguns minutos
3️ - Iniciar o ritual como se fosse um ato sagrado
Deve acenda uma lamparina ou uma vela em silêncio ( deve ser de ghee)
Coloque as mãos no coração
Reconheça-se internamente honrando a noite, o silêncio
e o recolhimento.
Não peça nada ainda, apenas reconheça o momento.
4️ - Vamos então fazer o ritual de recolhimento (Esta é uma das partes
mais importantes), considerando que este momento é o coração do Solstício de Inverno. E em silêncio faça
algumas perguntas importantes ou se pretender pode-as escrever:
O que precisa de descansar e de libertar em si?
O que já terminou e o que já cumpriu o seu ciclo?
Que partes suas estão cansadas?
O que precisa de terminar ou morrer em si para que algo
de novo possa nascer?
Não seja excessivamente racional e
sinta mais.
Faça uma entrega simbólica e se pretender pode escrever o que quiser que
se liberte ou se solte em si, depois pode queimá-lo numa vela ou num recipiente ou também pode-o colocar debaixo de
uma pedra. Este gesto pode parecer simples, mas é profundo e quando for feito
de uma forma consciente pode ser muito importante.
5️ - Faça uma meditação muito suportada na sua luz interne e no seu sol
interior.
Imagine um pequeno ponto de luz no centro do seu peito
e no coração
Veja que essa luz é pequena, mas ao mesmo tempo intensa,
mas estável.
Não a faça crescer deve mantê-la assim, mas ao mesmo
tempo deve protege-la e geri-la fazendo com que essa luz não brilhe para fora,
mas sim para todo o seu interior.
6️ - Som e vibração pode não ser feito, mas tem muito poder
Se usar sons eles devem ser tons
graves em que os sons são longos como os das taças tibetanas. Se tiver uma taça
tibetana ela deve ter sons baixos e se fizer um mantra deve ser um mantra suave
como por exemplo o OM
prolongado, em que os sons devem ser de embalar e não de despertar
7️ - Deve fechar este momento de uma forma consciente, agradecendo à noite, ao silêncio e não deve apagar a
vela deve-a deixar arder até ao fim. Pode dizer uma frase para encerrar este
momento como por exemplo
“Eu confio no tempo invisível que me vai trazer
um tempo de luz, de criação e de da transformação.”
Após este o ritual é muito importante que não volte logo a estímulos do dia a dia devendo evitar
ecrãs, redes sociais, televisão, preferindo o recato e deve deitar-se de modo a
que o ritual continue durante o sono.
Este ritual pode ser partilhado e ter alguns
significados diferentes como por exemplo se for executado em grupo pode-se
fazer uma roda de silêncio, podemos
partilhar um momento de cura sem qualquer diálogo e ao mesmo tempo fazer um ritual
coletivo de entrega e partilha.
Pode-se também ter uma consciência terapêutico e neste caso podemos
efetuar uma leitura ou visualização interna da sua energia, efetuar uma
respiração lenta e orientada e no final fazer um trabalho energético com os chakras inferiores.
Também podemos ter uma conecção com Ayurveda e aqui podemos aumentar uns
chás quentes e oleosos, utilizar algumas especiarias
suaves e efetuar práticas calmantes para Vata.
Neste período devemos evitar o excesso de palavras, as músicas agitadas, os rituais performativos
e exuberantes e não apresentar nem ter expectativas de resultados
Uma questão
importante é que no Solstício de Inverno veneramos princípios, não poder, e
estes princípios fazem com que percebemos e que possamos compreender os
arquétipos: a noite, o silêncio, a gestação, a morte simbólica e uma luz
latente (não se manifesta), portanto, as divindades e mantras adequados são os
que sustentam o invisível, que protegem o silêncio e que guardam a semente que
vai fazer com que permitem o renascimento
Mas com esta análise o que podemos
aprender e o que nos ensina o solstício:
“Tudo
nasce no escuro”. E que o inverno é para recolher, a noite é para gestar e nos encontrarmos,
o silêncio é para nutrir e a luz é para confiar.
Na tradição védica e ayurvédica devemos considerar
1. Surya que podemos considerar como o nosso sol interior, pois mesmo no Inverno, Surya não desaparece, recolhe-se.
Podemos fazer um mantra “Om Suryaya Namaḥ” mas deve ser feito de
forma simples e profunda verbalizados em forma de japá, mas em voz baixa, com
poucas repetições e com uma vela acesa e com isto vamos honrar e invocar a luz que ainda não brilha.
2. Shiva que representa o silêncio e a dissolução em que Shiva é o arquétipo mais alinhado com o Solstício de
Inverno e representa uma pausa cósmica, a dissolução do velho, o silêncio
fértil e uma consciência pura.
O mantra que podemos fazer “Om Namaḥ shivaya” pois este mantra é
bom mas deve ser integrado numa meditação
silenciosa, para nos proporcionar um momento de entrega e para encerrar diferentes
ciclos.
3. Devi é considerada como a Mãe no seu aspeto mais escuro, não como elemento de destruição, mas como o centro ou o
útero cósmico em que os aspetos mais
adequados são representados como uma Durga
serena, Parvati e Adya Shakti (não Kali ativa).
O Mantra que
devemos fazer “Om Shrī Durgayai Namah” que também deve ser feito
de forma suave e invoca proteção
durante o nosso recolhimento.
4. Em todas as tradições yóguicas e universais o
mantra OM será o
mantra mais universal e ao mesmo tempo o mais seguro e profundo.
Devemos considerar que no Solstício
de Inverno, menos é mais, por
isso deve ser feito de uma forma correta e devemos fazer o OM longo, num tom
grave, fazendo poucas repetições e com algumas pausas de silêncio. O mantra OM
representa o vazio, o nosso potencial e ao mesmo tempo é uma semente sonora do
universo
Os mantras
neste período devem ser evitados, não por serem
“errados”, mas por não combinarem com a energia que este solstício representa e
quando forem feitos devem ser pouco ativos, devem fazer invocações de poder ou
conquista, devem ser rítmicos, mas não rápidos. Nunca nos devemos esquecer que o inverno pede contenção, não ativação. Quando
fazemos mantras devemos ter sempre em atenção a intenção e o propósito que
queremos, por isso devemos escolher a divindade e o mantra que ele representa
Shiva representa o silêncio e dissolução
Surya representa a nossa luz latente
Devi representa a gestação e proteção
OM representa o potencial puro
Terra representa a sustentação
OM shanti, Shanti, Shanti

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