sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

O solstício de Inverno numa visão espiritual

 

Instituto de Medicina Ayurvédica

O Solstício de Inverno é um dos momentos espirituais mais antigos da humanidade. Quando falamos no solstício de inverno no seu sentido espiritual temos de ter em atenção ao que acontece e percebemos que essa noite é a noite mais longa do ano, é o momento em que o Sol atinge o ponto mais baixo no céu, onde existe menor tempo de luz solar, quando se dá início do Inverno astronómico, sendo neste momento onde define a morte simbólica da luz externa e ao mesmo tempo considera-se como sendo o nascimento da nossa luz interna.

 

No hemisfério norte em Portugal, na Europa e na América do Norte comemora-se entre os dias 21 e 22 de dezembro, mas na maioria dos anos é comemorado dia 21 de dezembro.

 

No Hemisfério Sul no Brasil, na Argentina, Chile, etc. comemora-se entre os dias 20 e 21 de junho, mas na maioria dos anos é comemorado dia 21 de junho.

 

Nas tradições espirituais e ancestrais esta comemoração pode ser feita na noite anterior por exemplo na noite de 20 para 21 de dezembro, ou exatamente no mesmo dia do solstício, ou ainda nos 3 dias simbólicos (antes, durante e depois),

porque energeticamente o Sol “pára”, o tempo desacelera, e o portal não é de um único minuto

 

O melhor momento para comemorar e celebrar espiritualmente é ao anoitecer, antes de dormir, em silêncio e em recolhimento o que vai respeita a energia real do Inverno.

 

Em todas as tradições antigas o Sol não desaparece, ele recolhe-se para renascer.

 

O Solstício de Inverno não é uma celebração de expansão, é uma celebração de recolhimento, do silêncio e de gestação (na espiritualidade “gestação” não se refere apenas à gravidez física, mas a um processo interno de incubação, maturação e preparação), em que energeticamente se liga ao Ida Nadi (lunar), ao Prana Vayu (movimento interno), aos elementos Terra e Água, e ao Chakra da raiz e do coração profundo.

 

Estrutura de uma comemoração espiritual

 

1️ - A Preparação do espaço é muito importante e o ambiente deve:

Ter uma luz baixa ou apenas luz de velas

Estar em silêncio ou com sons muito suaves

O espaço deve estar limpo e ser um espaço simples

Devemos integrar alguns elementos simbólicos que podem ser colocados num pequeno altar como:

Uma vela (representa o Sol interno)

Um recipiente com água

Uma pedra ou cristal escuro

Algo natural (sementes, galho seco)

Não devemos ter ou fazer nada em excesso e no final considerar que o inverno é essencialidade.

 

2️ - Preparação do nosso corpo e antes de qualquer ritual, o corpo precisa e deve entrar e estar em consonância com o inverno, devendo ter:

Uma respiração lenta e profunda

Os ombros soltos

O abdómen relaxado

O corpo ou os pés bem apoiados no chão

Quando a fazemos sozinhos podemos fazer uma automassagem com óleo mas a nossa respiração deve ser nasal e profunda, e devemos manter o silêncio consciente durante alguns minutos

 

3️ - Iniciar o ritual como se fosse um ato sagrado

Deve acenda uma lamparina ou uma vela em silêncio ( deve ser de ghee)

Coloque as mãos no coração

Reconheça-se internamente honrando a noite, o silêncio e o recolhimento.

Não peça nada ainda, apenas reconheça o momento.

 

4️ - Vamos então fazer o ritual de recolhimento (Esta é uma das partes mais importantes), considerando que este momento é o coração do Solstício de Inverno. E em silêncio faça algumas perguntas importantes ou se pretender pode-as escrever:

O que precisa de descansar e de libertar em si?

O que já terminou e o que já cumpriu o seu ciclo?

Que partes suas estão cansadas?

O que precisa de terminar ou morrer em si para que algo de novo possa nascer?

Não seja excessivamente racional e sinta mais.

 

Faça uma entrega simbólica e se pretender pode escrever o que quiser que se liberte ou se solte em si, depois pode queimá-lo numa vela ou num recipiente ou também pode-o colocar debaixo de uma pedra. Este gesto pode parecer simples, mas é profundo e quando for feito de uma forma consciente pode ser muito importante.

 

5️ - Faça uma meditação muito suportada na sua luz interne e no seu sol interior.

Imagine um pequeno ponto de luz no centro do seu peito e no coração

Veja que essa luz é pequena, mas ao mesmo tempo intensa, mas estável.

Não a faça crescer deve mantê-la assim, mas ao mesmo tempo deve protege-la e geri-la fazendo com que essa luz não brilhe para fora, mas sim para todo o seu interior.

 

6️ - Som e vibração pode não ser feito, mas tem muito poder

Se usar sons eles devem ser tons graves em que os sons são longos como os das taças tibetanas. Se tiver uma taça tibetana ela deve ter sons baixos e se fizer um mantra deve ser um mantra suave como por exemplo o OM prolongado, em que os sons devem ser de embalar e não de despertar

 

7️ - Deve fechar este momento de uma forma consciente, agradecendo à noite, ao silêncio e não deve apagar a vela deve-a deixar arder até ao fim. Pode dizer uma frase para encerrar este momento como por exemplo

 “Eu confio no tempo invisível que me vai trazer um tempo de luz, de criação e de da transformação.”

 

Após este o ritual é muito importante que não volte logo a estímulos do dia a dia devendo evitar ecrãs, redes sociais, televisão, preferindo o recato e deve deitar-se de modo a que o ritual continue durante o sono.

 

Este ritual pode ser partilhado e ter alguns significados diferentes como por exemplo se for executado em grupo pode-se fazer uma roda de silêncio, podemos partilhar um momento de cura sem qualquer diálogo e ao mesmo tempo fazer um ritual coletivo de entrega e partilha.

 

Pode-se também ter uma consciência terapêutico e neste caso podemos efetuar uma leitura ou visualização interna da sua energia, efetuar uma respiração lenta e orientada e no final fazer um trabalho energético com os chakras inferiores.

 

Também podemos ter uma conecção com Ayurveda e aqui podemos aumentar uns chás quentes e oleosos, utilizar algumas especiarias suaves e efetuar práticas calmantes para Vata.

 

Neste período devemos evitar o excesso de palavras, as músicas agitadas, os rituais performativos e exuberantes e não apresentar nem ter expectativas de resultados

 

Uma questão importante é que no Solstício de Inverno veneramos princípios, não poder, e estes princípios fazem com que percebemos e que possamos compreender os arquétipos: a noite, o silêncio, a gestação, a morte simbólica e uma luz latente (não se manifesta), portanto, as divindades e mantras adequados são os que sustentam o invisível, que protegem o silêncio e que guardam a semente que vai fazer com que permitem o renascimento

 

Mas com esta análise o que podemos aprender e o que nos ensina o solstício:

“Tudo nasce no escuro”. E que o inverno é para recolher, a noite é para gestar e nos encontrarmos, o silêncio é para nutrir e a luz é para confiar.

 

Na tradição védica  e ayurvédica devemos considerar

1. Surya que podemos considerar como o nosso sol interior, pois mesmo no Inverno, Surya não desaparece, recolhe-se.

Podemos fazer um mantra “Om Suryaya Nama” mas deve ser feito de forma simples e profunda verbalizados em forma de japá, mas em voz baixa, com poucas repetições e com uma vela acesa e com isto vamos honrar e invocar a luz que ainda não brilha.

 

2. Shiva que representa o silêncio e a dissolução em que Shiva é o arquétipo mais alinhado com o Solstício de Inverno e representa uma pausa cósmica, a dissolução do velho, o silêncio fértil e uma consciência pura.

O mantra que podemos fazer “Om Nama shivaya” pois este mantra é bom mas deve ser integrado numa meditação silenciosa, para nos proporcionar um momento de entrega e para encerrar diferentes ciclos.

 

3. Devi é considerada como a Mãe no seu aspeto mais escuro, não como elemento de destruição, mas como o centro ou o útero cósmico em que os aspetos mais adequados são representados como uma Durga serena, Parvati e Adya Shakti (não Kali ativa).

O Mantra que devemos fazer “Om Shrī Durgayai Namah” que também deve ser feito de forma suave e invoca proteção durante o nosso recolhimento.

 

4. Em todas as tradições yóguicas e universais o mantra OM será o mantra mais universal e ao mesmo tempo o mais seguro e profundo.

Devemos considerar que no Solstício de Inverno, menos é mais, por isso deve ser feito de uma forma correta e devemos fazer o OM longo, num tom grave, fazendo poucas repetições e com algumas pausas de silêncio. O mantra OM representa o vazio, o nosso potencial e ao mesmo tempo é uma semente sonora do universo

 

 Os mantras neste período devem ser evitados, não por serem “errados”, mas por não combinarem com a energia que este solstício representa e quando forem feitos devem ser pouco ativos, devem fazer invocações de poder ou conquista, devem ser rítmicos, mas não rápidos.  Nunca nos devemos esquecer que o inverno pede contenção, não ativação. Quando fazemos mantras devemos ter sempre em atenção a intenção e o propósito que queremos, por isso devemos escolher a divindade e o mantra que ele representa

 

Shiva representa o silêncio e dissolução

Surya representa a nossa luz latente

Devi representa a gestação e proteção

OM representa o potencial puro

Terra representa a sustentação

 

 

OM shanti, Shanti, Shanti

 

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