quarta-feira, 7 de julho de 2010

O AYURVEDA: “A CIÊNCIA DA VIDA”

O AYURVEDA: “A CIÊNCIA DA VIDA”
Ayurveda é o nome dado ao conhecimento médico desenvolvido na Índia há cerca de 7 mil anos, o que faz dela um dos mais antigos sistemas medicinais da humanidade.
Ayurveda significa, em sânscrito, Ciência (veda) da vida (ayur). Continua a ser a medicina oficial na Índia e tem-se difundido por todo o mundo como uma técnica eficaz de medicina tradicional.
Acredita-se que esta ciência seja parte constituinte do universo e tenha surgido juntamente com a natureza, portanto, não tenha sido criada nem desenvolvida pelos homens, mas sim aprendida e apreendida, por ser uma verdade universal.
Considera-se hoje a Ayurveda como parte da tradicão, considerando os textos escritos de charaka samhita (ayurveda clínico) e sushruta samhita (ayurveda cirurgião), conhecimento que passaram da sabedoria ancestral para o papel.
O Ayurveda continua a ser praticado regularmente na Índia e tem-se difundido por todo o mundo que com o seu conhecimento tanto da sua prática e técnicas utilizadas passa a ser reconhecida e respeitada por todos.
O Ayurveda propõe que o homem é um universo dentro de si mesmo (microcosmos) composto de corpo, mente e espírito, inserido dentro do macrocosmos, interagindo com este a todo o momento. O estado de saúde reflecte a harmonia dinâmica entre estes três factores. Representando a simples e prática da ciência da vida, é, portanto, um sistema aplicável universalmente a todos que buscam paz e harmonia interiores.
Na medicina ocidental, os órgãos do corpo humano têm diferentes funções e podem ser consideradas pequenas engrenagens de uma máquina. Quando um órgão apresenta deficiência no seu funcionamento, o tratamento restringe-se à cura dele próprio. Apresenta-se uma visão reducionista da doença. Já na medicina Ayurvedica, componente de um sistema holístico de cura e prevenção, todos os órgãos são parte de um todo. Considera-se o individuo como um ser integral, um microcosmo e que, portanto não deve ser reduzido as partes que o compõe, nem separado dos seus ambientes social, cultural e espiritual, ou da sua ligação com o macrocosmos.
- Um indivíduo é considerado uma unidade indivisível, um ser íntegro que não pode ser separado de seu ambiente social, cultural, espiritual e da sua ligação cósmica.
- Uma doença é consequência de uma desarmonia dentro de uma ordem cósmica. Não limitada pelo tempo e espaço.
- O mau funcionamento de algum ou alguns órgãos, é compreendido e tratado no contexto ambiental social, espiritual e cultural, considerando que integram um sistema corpo, mente e espírito.
- O universo é um todo perfeitamente organizado, onde nada acontece sem razão ou de maneira casual e tudo se move em direcção de um objectivo definido. Não é uma combinação sem sentido, sendo a separação dos componentes químicos que ocorrem por acaso que causa a doença.
A abordagem Ayurvédica é objectiva, em primeiro lugar, preservar e promover a saúde das pessoas através da adopção de uma rotina diária, respeitando a constituição individual de cada um. Esta rotina implica a incorporação de novos hábitos, de maneira consciente, em diversos âmbitos de nossa vida, como a alimentação (sobretudo vegetariana), a qualidade do sono e a sexualidade, que são considerados os três pilares da boa saúde.
O Ayurveda assim, procura a cura, trabalhando na promoção da saúde do corpo como um todo. Esta medicina Indiana lida com o indivíduo doente, e não com a doença em si, ou seja, procura curar a causa, e não o sintoma.
A aproximação com o indivíduo doente pode ser feita através dos oito ramos principais:
1. Medicina Interna (Clínica Geral)
2. Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia
3. Psiquiatria e Psicologia
4. Doenças da Cabeça e Pescoço
5. Cirurgia Geral
6. Toxicologia
7. Ciência do Rejuvenescimento
8. Ciência dos Afrodisíacos
As ciências do rejuvenescimento e dos afrodisíacos lidam com pessoas saudáveis, enquanto os outros seis ramos lidam com a pessoa doente. Pessoas que ansiam uma vida longa deveriam seguir os ensinamentos do Ayurveda, o que levaria à realização de quatro importantes objectivos de vida: riqueza, prazer, auto-realização e evolução espiritual.
Mais do que preservar a saúde e curar todo tipo de males, o Ayurveda propõe a transformação das pessoas porque estimula uma nova atitude mental em relação à vida: aprende-se a meditar, comer e dormir melhor, a treinar a mente para extravasar emoções tóxicas e a ter consciência de seu corpo, do espaço que ele ocupa e o propósito de sua existência neste momento. Esta transformação é possível através auto-conhecimento num movimento de auto-cura, que pode ser praticado por qualquer pessoa.
A medicina Ayurvédica é parte da ciência védica e utiliza na sua abordagem terapêutica plantas medicinais, dieta, exercícios físicos, meditação, yoga, astrologia védica, massagem, aromaterapia, gemoterapia (tratamento com metais e gemas), cirurgia e psicologia.
A Ayurveda reconhece os tipos individuais e ajuda-nos a entender nossas particularidades, nossas tendências.
Além de técnicas curativas como massagens e medicamentos fitoterápicos, o tratamento ayurvédico baseia-se muito na alimentação. Mas o grande segredo deste conhecimento milenar é que todo o tratamento é indicado a partir da determinação do princípio metabólico que liga a mente e o corpo do paciente, que os indianos chamam de dosha.
Desta forma, a natureza da pessoa determina o que ela irá precisar para se equilibrar e curar-se, fazendo com que o tratamento seja absolutamente individualizado. Pessoas de diferentes constituições reagem de maneira diferente em relação à vida, logo terão diferentes reacções a um determinado tipo de tratamento - assim, o primeiro passo é descobrir qual é a sua natureza. Dado o diagnóstico geral do indivíduo, o médico irá orientar o tratamento que visa equilibrar o paciente, considerando seu biótipo. Acredita-se que a doença surge quando um dos seus princípios metabólicos (doshas) da pessoa está exacerbado ou minimizado. Nomeia-se o mal como “distúrbio de vata” “distúrbio de pitta” ou “distúrbio de kapha”.
Considera-se saudável a pessoa que possui equilíbrio entre mente, corpo e espírito, equilíbrio entre os doshas (vata, pitta e kapha), princípios universais responsáveis pelo bom e pelo mau funcionamento dos diferentes órgãos do corpo, que tem uma boa digestão, bons elementos estruturais do corpo e uma regular excreção dos produtos (toxinas) de seu metabolismo.
A doença, para a Ayurveda, é muito mais que a manifestação de sintomas desagradáveis ou perigosos à manutenção da vida, a Ayurveda, como ciência integral, considera que a doença inicia-se muito antes de chegar à fase em que ela finalmente pode ser percebida. Assim, pequenos desequilíbrios tendem a aumentar com o passar do tempo, se não forem corrigidos, originando a doença muito antes de podermos percebê-la.
Os cinco elementos e os doshas
A Ayurveda baseia-se no sistema filosófico samkhya (podem ler texto filosofia Samkhya) nos cinco elementos que formam toda a manifestação material do universo, são eles éter, ar, fogo, água e terra. Toda a matéria que existe no universo provém destes 5 elementos, inclusive o corpo humano (que além da matéria, também é formado por buddhi - discernimento, ahamkara - ego e manas - mente). De acordo com o Ayurveda, quando algum dos 5 elementos está em desequilíbrio no corpo do indivíduo, inicia-se o processo da doença.
Segundo essa tradição, os seres humanos são influenciados pelos 5 elementos através do dosha. O Homem apresenta três modelos constitutivos básicos, expressões condensadas dos cinco elementos fundamentais. Estes modelos são princípios básicos ou humores conhecidos como - Kapha, Pitta e Vata- conceitos únicos da Ayurveda. Os doshas podem ser definidos como mecanismos que governam nosso fluxo de inteligência e de energia. Vata, regido por ar e éter, Pitta, regido por fogo e água, e Kapha, regido por terra e água. Ou seja, a partir dos elementos Éter e Ar, manifesta-se Vata (vata dosha), representado pelo ar corporal, pelas cavidades. Pitta (pitta dosha) é formado a partir dos elementos Fogo e Água e manifesta-se no organismo como o fogo digestivo. Os elementos Terra e Água resultam na água corporal e formam o kapha dosha.
Assim, existem 7 constituições básicas:
1. vata,
2. pitta,
3. kapha,
4. vata-pitta,
5. pitta-kapha,
6. vata-kapha e
7. vata-pitta-kapha.
As três primeiras (formas puras) e a última (forma totalmente equilibrada) são mais difíceis de se encontrar. Em geral, as pessoas possuem 2 doshas predominantes. Como já mencionado, em todas as células existem os três doshas, em diferentes proporções, porém eles são encontrados predominantemente em certos lugares: o lugar preferencial de Vata é abaixo da região umbilical, abdominal; o de Pitta é entre as regiões cardíaca e umbilical e o de Kapha é acima da região cardíaca. Mesmo estando predominantemente nas regiões citadas, eles permeiam o corpo todo.
Cada um dos doshas é mais activo nas diferentes fases da vida do ser humano; Vata predomina após os 60 anos; Pitta entre os 20 e 60 anos, e Kapha predomina do nascimento até os 20 anos( isto é considerado como referência pois varia se for homem ou mulher).
Os doshas também possuem carácter cíclico, variando as suas proporções relativas, independente da constituição básica do indivíduo: Kapha predomina mais à tarde (entre 15 e 19h). Pitta é mais predominante no meio do dia (entre 11 e 15 h) e entre 24 e 2 h. Vata concentra-se principalmente no período entre 6 e 10h da manhã e entre 19 e 23h( aqui os horários podem variar conforme a estação do ano) .
Muitas pessoas apresentam uma constituição onde se nota, em percentagem, dois ou três dosha (ex. vata-pitta o pitta-vata), mais raros são os casos onde está presente só um dosha. Os doshas são substâncias sempre presentes no corpo, sendo continuamente renovadas, têm sua quantidade, qualidade e funções definidas. Todos os doshas estão presentes no ser humano, em cada célula do corpo, desde o momento da concepção; as diferentes constituições são resultantes das percentagens relativas entre vata-pitta-kapha. Todas as pessoas possuem os três doshas, mas em diferentes proporções. No momento da nossa concepção a nossa constituição é definida pelos doshas que estão presentes em maior quantidade no nosso organismo. Ao nascermos, tal proporção está em equilíbrio (prakriti), mas com o tempo e a vida desregrada surge o desequilíbrio em um ou mais desses doshas (vikriti), contribuindo para o aparecimento e desenvolvimento de doenças. Assim, quando normais, os doshas desempenham as diferentes funções do corpo e o mantém. Com o nosso estilo de vida, os doshas têm a tendência a se alterarem, passando por aumentos ou diminuições. Quando se produz essa alteração vão produzir alterações internascomo por exemplo nos tecidos (dhatus) - e contribuem para o aparecimento de doenças.
Quando os dosha estão em equilíbrio o de acordo com a constituição, o resultado é uma saúde vibrante com preciosos niveles de energias. Mas quanto este delicado equilíbrio é incomodado, o corpo se torna susceptível ao “stress” exteriores, como os vírus, os bactérias, um trabalho sobrecarregado, uma alimentação incorrecta. O desequilíbrio nos dosha é o primeiro sinal que o espírito, a mente, o corpo do sujeito não se encontram numa perfeita coordenação. Uma incorrecta alimentação provocará um aumento de agni (foco gástrico) e uma incorrecta digestão da comida: todo isto provocará a formação das toxinas (ama). O aumento das toxinas provocará a seguir a doença.
Para a pessoa ter o corpo saudável é necessário manter os seus tecidos saudáveis e isso é possível por meio da alimentação, que deve ser feita de acordo com o estado actual do paciente, ou seja, de acordo com seu dosha predominante e com os desequilíbrios que ele possa apresentar. Os tecidos que formam o corpo humano são formados a partir dos 5 elementos, que consumimos em forma de alimento. Para o Ayurveda, a saúde de uma pessoa é medida pela força de seu agni (fogo digestivo). Um "bom agni" é capaz de extrair dos alimentos ingeridos os nutrientes necessários para formar tecidos fortes; por outro lado, quando o agni está diminuído ou é irregular (menor capacidade digestiva) a nutrição dos tecidos fica mais pobre, comprometendo a saúde e a integridade estrutural do organismo. Costuma-se dizer: "você é o que você come"; mas pode-se dizer que a medicina indiana vai além: "você é o que você consegue digerir".
O biotipo VATA
As características do Vata são a criatividade, a agitação, a variabilidade na forma, no tamanho, no carácter e na acção. Em geral, o Vata é delgado e tem uma pele fria e seca. Tem um carácter forte, é entusiasta, imaginativo, impulsivo, tem muitas ideias, mas frequentemente o Vata é inconclusivo. O Vata come e dorme numa maneira muito nómada e tem predisposição a ansiedade, a insónia, aos incómodos, a desmenorreia e a obstipação; a sua energia está presente de maneira irregular, por isso a existência do Vata é muito variável
O biotipo PITTA
O Pitta é relativamente previsível, tem uma média estatura, força e resistência, é bem proporcionado, com uma pele “avermelhada”. O Pitta tem uma inteligência rápida, articulada, aguda que pode ser também muito crítica ou “passional”, com breves e explosivos momentos de raiva. O Pitta come e dorme de uma maneira regular, ama o sol mas não suporta o calor e sofre de incómodos a nível gastroduodenal.
O biotipo KAPHA
Uma característica fundamental do Kapha é o relaxamento. O Kapha é sólido, pesado, forte, com uma digestão lenta, cabelos bastante oleosos, pele fria e pálida. São muito lentos no digerir, no comer e no agir, dormem muito tempo e profundamente, tendem a ser obstinados. Têm predisposição para altos níveis de colesterol, obesidade para as alergias.
Segundo a Medicina Ayurvédica, a alimentação deve ser feita de acordo com a constituição individual (Prakriti). Superficialmente pode-se colocar que para um sujeito Vata será adequada uma comida doce, ácida e salgada, para um Pitta uma comida doce, amarga, adstringente ao contrário os sujeitos Kapha deveriam escolher uma comida com sabor amargo, picante e adstingente.

2 comentários:

  1. Querido Narayanavinaya Vitor Varão, Namastê!
    Agradeço por compartilhar seus conhecimentos. Seu Blog é mais uma fonte de estudos sobre a inesgotável fonte de sabedoria que é o Ayurveda.
    Obrigada! :)

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  2. Obrigado pelas palavras, sim é verdade, procuro que a Ayurveda seja conhecida, reconhecida e credibilizada.

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